Incessante #10 | Elon Musk: Bandido ou herói?
Análise sobre o bloqueio do Twitter (X)
Edições anteriores
Incessante #9 | Tem um “Nero” no Brasil?
Incessante #8 | A Nike não é para qualquer um?
No Brasil, todos devem seguir as leis, certo? Então, por que um estrangeiro como Elon Musk pensa que pode vir aqui, abrir negócios e simplesmente ignorá-las? O bloqueio do X, antigo Twitter, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é um reflexo direto desse embate, mostrando que, por aqui, a lei ainda deve prevalecer. Mas vamos analisar isso com calma.
Siga comigo nessa reflexão.
Imagine a seguinte situação: você aluga um apartamento e começa a vender ilícitos. O dono do imóvel descobre e, ao invés de pedir que você pare, exige uma comissão de 20%. Absurdo, certo? Agora, imagine uma rede social onde você comete crimes como racismo, aliciamento de menores, compartilhamento de abuso de menores ou planeja ataques às instituições. O dono da rede, ao invés de agir e bloquear seu conteúdo, prefere lucrar em cima disso, deixando as publicações no ar. Parece razoável?
Você é a favor de crimes quando são praticados por pessoas da sua ideologia?
Elon Musk, por trás de uma máscara de defensor da liberdade de expressão, parece guiar suas decisões conforme seus interesses econômicos. Na Turquia, por exemplo, ele acatou as ordens de Recep Tayyip Erdoğan para silenciar opositores. Na Índia, cedeu ao governo para bloquear perfis que apoiavam os protestos dos fazendeiros. E na China? Nem há espaço para discussão: sua plataforma é simplesmente banida. Mas no Brasil, parece que o jogo mudou.
O Brasil continua sendo uma República das Bananas?
PS.: O termo "República das Bananas" foi cunhado pelo escritor americano William Sydney Porter, conhecido como O. Henry, no conto O Almirante, de 1904. Mais tarde, tornou-se uma expressão política que faz referência a países marcados pela monocultura e por instituições governamentais fracas e corruptas, nos quais uma ou várias empresas estrangeiras têm o poder de influenciar as decisões nacionais.
Musk decide desafiar a justiça. O STF exige que a plataforma cumpra as regras e nomeie um representante legal no Brasil. Simples, não? Mas Musk prefere confrontar, e até ameaça: "Espero que Lula goste de voar em avião comercial". A arrogância de quem se vê acima da lei transborda, e as instituições brasileiras reagem. O resultado? O STF, de forma unânime, decidiu suspender o X no Brasil. Um 5 a 0 claro, mesmo que com ressalvas, reafirma: as leis brasileiras precisam ser respeitadas.
E aqui entra a hipocrisia. Musk se comporta como um "tchutchuca" nas ditaduras, obedecendo ordens sem pestanejar, mas vira "tigrão" nas democracias, onde há espaço para confronto. A comparação é inevitável: em ambientes controlados, ele aceita as regras; já em democracias, ele se autoproclama defensor da liberdade, desde que isso não interfira em seus lucros.
Mas o problema não reside apenas nas atitudes de Musk. O STF, ao bloquear a plataforma, gerou um debate importante: até onde o poder judiciário pode intervir? A decisão de Alexandre de Moraes, embora justificável, foi considerada extrema por muitos. A falta de diálogo e a ausência de um processo legal adequado levantaram bandeiras vermelhas. Em vez de focar nos perfis responsáveis pelos crimes, o bloqueio atingiu todos os usuários, gerando uma sensação de censura em massa.
A questão aqui vai além de Musk e do STF. Trata-se de como lidamos com a nossa liberdade em uma era digital, onde as fronteiras entre o que é aceitável ou não são cada vez mais nebulosas. Será que estamos prontos para abrir mão de certos direitos em nome de uma segurança pública abstrata?
O fato é que o comportamento de Musk não passa despercebido em outras partes do mundo. Na União Europeia, ele enfrenta pressões para cumprir as regulamentações do *Digital Services Act*, que visa proteger os cidadãos contra desinformação e discurso de ódio. E como ele responde? Ameaça retirar o X do continente. Enquanto em lugares como a Turquia e a Índia ele cede, na Europa ele desafia. A hipocrisia é clara
No entanto, as consequências desse comportamento já estão sendo sentidas. O valor de mercado do X despencou, caindo de US$ 44 bilhões para US$ 12,5 bilhões desde que Musk assumiu o controle. Uma série de decisões erráticas, combinadas com declarações polêmicas, afastaram grandes anunciantes, e a plataforma, que antes era um pilar do debate público, agora luta para se manter relevante.
No final das contas, a pergunta que fica é: o que realmente motiva Elon Musk? Seria ele um verdadeiro defensor da liberdade ou apenas mais um bilionário manipulando narrativas para proteger seus interesses?
Também tem um vídeo sobre o assunto Click AQUI
Siga-me no Instagram para nos conectarmos @lenacasasnovas
Se ainda não está recebendo a newsletter por e-mail