Incessante #8 | A Nike não é para qualquer um?
Análise de sociocultural sobre o posicionamento de marketing da Nike
Análises anteriores
Incessante #7 | O Trump vai dar o que Elon Musk quer?
Incessante #6| O que o tiro e a facada tem em comum?
Antes e durante as Olimpíadas de Paris, a Nike lançou um comercial que gerou debates acalorados sobre a cultura "woke". Mas, antes de nos aprofundarmos nisso, vamos entender melhor o que esse termo significa.
O termo "woke" originalmente significava "estar alerta para a injustiça racial" na comunidade afro-americana. Com o tempo, seu significado se expandiu e, atualmente, descreve pessoas conscientes de questões sociais e políticas, como racismo, justiça social, feminismo e direitos LGBTQIA+. Nos Estados Unidos, "woke" se tornou um ponto de discórdia política e cultural. Enquanto alguns veem o termo como um elogio, associando-o à luta por direitos e igualdade, outros o utilizam de forma pejorativa, criticando o que consideram um excesso de correção política ou uma imposição de ideologias progressistas. (BBC)
Quem lacra não lucra?
Muito se fala hoje em “lacração” na internet, e, como muitas empresas buscam promover a inclusão social, acabam cometendo erros primários ao ignorar seu próprio público.
Um exemplo claro da cultura woke nos negócios foi o da Bud Light nos Estados Unidos, que decidiu estampar em suas latas a influenciadora transgênero Dylan Mulvaney, mesmo sabendo que seu público é majoritariamente masculino e com viés conservador. O resultado foi um boicote generalizado, levando a empresa a uma queda de 17% na semana da campanha, que começou em 1º de abril, resultando em perda de valor de mercado e na liderança de vendas de cerveja nos Estados Unidos, somando um prejuízo de 1,95 bilhões de dólares no 1º semestre de 2023. Um ano depois, a empresa continuou perdendo vendas e caiu para a terceira posição.
Os adeptos da cultura woke muitas vezes exageram na militância. Por isso, vemos tanto nas redes sociais o fenômeno do "cancelamento", onde indivíduos e empresas são boicotados por comportamentos ou opiniões consideradas inaceitáveis.
Quer que eu traga uma análise aprofundada sobre esse tema ?
Quando a Nike vai contra essa tendência e produz um comercial que diz que “vencer não é para todo mundo”, as pessoas se surpreendem e se perguntam: Ué, abandonou o "Just Do It"?
Assista ao comercial AQUI.
Se você não conseguiu a tradução:
Basicamente, o comercial questiona se um atleta se torna uma má pessoa por ser obstinado, egoísta, sem empatia, nunca estar satisfeito, não ter remorso ou ser enganoso.
No consciente coletivo, esses sentimentos são vistos como negativos.
O que é uma pessoa ruim para você?
No esporte, o atleta tem licença poética para liberar sentimentos primitivos, como a lei da selva e a sobrevivência. Afinal, para ganhar medalhas e quebrar recordes, é preciso ir além das ideologias e crenças.
O posicionamento da marca mudou?
Dizer que a Nike está mudando seu posicionamento e abandonando o "Just Do It" é uma leitura equivocada. Na verdade, a marca reforça que, para alcançar suas metas, é preciso agir sem hesitar, despindo-se de ideologias.
Este comercial foi feito para os atletas, principalmente para os que são patrocinados pela empresa e precisam mostrar ao mundo que os produtos da Nike são para vencedores. E os números mostram a importância disso: só no ano passado, a Nike investiu mais de 71 milhões de dólares no esporte, consolidando-se como a marca mais valiosa do planeta no segmento, mesmo com uma queda recente nas vendas.
A mensagem da Nike é clara: use nossos produtos e vença! E, sejamos francos, quem quer ser um perdedor?
O desempenho exige determinação e as ferramentas certas.
Veja o caso do atleta do salto com vara que foi traído por uma das suas varas: ele estava usando o short correto? Ou da romena Ana Barbosu, que “tirou” a medalha de Jordan Chiles, rebaixando-a ao quinto lugar. Essas situações mostram que o esporte não perdoa erros, e a Nike quer que seus produtos sejam vistos como aliados indispensáveis na busca pela vitória.
E sobre aquele atleta americano de salto em altura, McEwen, que não aceitou dividir o ouro, pediu o desempate, perdeu e ficou com a prata? Isso não vai torná-lo uma pessoa ruim. O Comitê Olímpico Internacional é que deveria garantir regras de desempate mais claras, sem expor os atletas a essas decisões.
Espero sinceramente que as Olimpíadas não sejam contaminadas por uma cultura de vitimismo que nivela todos por baixo. Na vida real, quem se esforça menos não deveria levar o mesmo troféu de quem dá tudo de si, no mesmo ambiente social.
E não, isso não é sobre meritocracia. Sabemos que o mundo é desigual, mas no esporte, como na vida, é preciso agir.
Quer realizar seus objetivos?
Também tem um vídeo sobre o assunto Click AQUI
Siga-me no Instagram para nos conectarmos @lenacasasnovas
Se ainda não está recebendo a newsletter por e-mail